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Henri Cartier-Bresson, um dos grandes
mestres da fotografia do século 20, morreu na segunda-feira, aos 95 anos de
idade, em Céreste (Alpes-de-Haute-Provence). A informação foi dada por pessoas
próximas ao fotógrafo, que também informaram que seu corpo foi sepultado na
quarta-feira. A causa da morte não foi revelada. Autor de uma obra grandiosa
e pai do fotojornalismo moderno, um dos maiores fotógrafos contemporâneos, Henri
Cartier-Bresson morreu em lIsle-sur-la Sorgue (Vaucluse). Acaba de chegar ao fim
uma vida inteira passada percorrendo o mundo. Dotado de curiosidade
insaciável e mais paradoxal do que sua obra parece indicar, Cartier-Bresson
definiu sua relação com a fotografia nos seguintes termos: "Para mim, a máquina
fotográfica é uma verdadeira amante. Ela nos dá vontade de encerrar o mundo
inteiro nessa caixinha, com todos os detalhes significativos que fazem o encanto
da existência". Cartier-Bresson, que só se tornou repórter profissional em 1946,
dá a impressão de ter estado presente sempre. A maior parte dos fatos marcantes
do século foi registrada por seu olhar. Nascido em 1908, em Chanteloup, perto
de Paris, ele cresceu num ambiente em que não faltava dinheiro e estudou pintura
com André Lhote. Marcado pelos conceitos de André Breton sobre o acaso, a
revolta e a intuição, ele foi primeiramente influenciado pelo surrealismo. Foi
por meio do fotojornalismo, que ele comparava à instantaneidade do desenho, que
chegou à fotografia, nos anos 1930. Cartier-Bresson carregava a máquina
fotográfica como um caderno de anotações e afirmava ter encontrado seu senso de
composição apenas três dias depois de ter começado a usar sua Leica. Em Nova
York, ele se iniciou na montagem fotográfica com Paul Strand. Em 1937 casou-se
com Ratna Mohini, uma dançarina javanesa. Tornou-se assistente de Jean Renoir em
três de seus filmes. Feito prisioneiro de guerra nos Vosges, em 1940, conseguiu
escapar. Aos 38 anos, entrou para o mundo dos mitos com a homenagem póstuma que
lhe foi feita após a guerra pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, acreditando
que tivesse morrido. Por mais que rejeitasse o rótulo de jornalista,
Cartier-Bresson foi uma das principais testemunhas de todos os grandes
acontecimentos mundiais, quer se tratasse da libertação de Paris, ou, em 1949,
dos últimos dias do Kuomintang em Pequim. Passou pela China, por Cuba e pela
Índia, onde esteve com freqüência. Era talvez nesse país que se sentisse melhor.
Quer mostrasse o último jejum de Gandhi, seu corpo no dia seguinte a seu
assassinato ou simples cenas de pesca ou oração, o desprendimento, o fervor e a
abstração que marcam seu olhar são levados ao auge nessas imagens indianas. O
que fascina, de fato, é que esse olhar em nenhum momento perturba a ordem das
coisas. Henri Cartier-Bresson fotografa "como um gato, sem incomodar". Suas
imagens impecáveis, tão clássicas em sua forma, permanecem instantâneas porque
são intrinsecamente ligadas ao prazer da tomada. Cartier-Bresson sabia que, em
todas as circunstâncias, "a vida só se exprime de uma vez por todas". Nada se
deve ao acaso nessas visões enquadradas com maestria, nas quais se combinam ao
mesmo tempo a tensão, a graça e a emoção. "O segredo é a concentração", disse.
Tudo depende da elasticidade do dedo. A tomada fotográfica ou o prazer tátil e
sensual da tomada, como ele explicou claramente em sua teoria do "instante
decisivo". Cartier-Bresson contribuiu para dar nobreza à fotografia em um
momento em que ela era pouco reconhecida. Como Kertész, que ele sempre teve como
mestre, ele originou toda uma geração de fotógrafos que, no pós-guerra, se
sentiram em casa na rua. Nos últimos anos, o culto a Cartier-Bresson vinha
diminuindo. O pai da fotografia era contestado de vez em quando. A partir de
1973, passou a dedicar-se ao desenho, a lápis e a carvão. Apesar do cuidado |
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