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24/09/2004 |
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Estão mudando o seu cargo |
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Está difícil achar chefes e funcionários nas empresas. Agora eles são chamados de líderes e colaboradores |
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Foi-se o tempo em que nas empresas havia chefes e empregados. Ou melhor, foi-se o tempo em que nas empresas os chefes eram chamados de chefes e os empregados de empregados. No novo dicionário adotado por um número crescente de organizações, essas palavras estão praticamente banidas, assim como uma denominação ainda mais antiga, "funcionário". As expressões substitutas são variadas. Em uma pesquisa preliminar em algumas empresas encontramos "time de colaboradores", "equipe de associados", "líderes do departamento" e "gestores das unidades". A própria variedade indica que não existe consenso sobre a denominação mais adequada, mas os velhos nomes perderam terreno. Numa enquete realizada no site de EXAME, respondida por quase 1 500 internautas, os termos "colaborador" e "líder" foram escolhidos, com quase metade dos votos, para designar os trabalhadores e seus comandantes (veja quadro).
Por que a troca de nomes? "Essa nova nomenclatura é resultado da mudança do papel dos recursos humanos", diz o professor Gilnei Mourão, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. Mais ou menos até a década de 80, o que existia nas empresas era o departamento pessoal, e todo mundo era funcionário. Aí a economia mudou. O capital intelectual ganhou peso, e a gestão passou a dar mais importância à inovação e ao talento. Por isso a tendência de valorizar as pessoas. Primeiro, elas foram reconhecidas como "recursos", daí o nome "recursos humanos". Na década de 90, foram elevadas à condição de principal recurso, aquele que efetivamente faz a diferença no resultado financeiro -- a ponto de merecerem outro nome. Há 12 anos, por exemplo, a Serasa criou o departamento de desenvolvimento humano. A Ambev batizou sua área de diretoria de gente e gestão. O RH do grupo Algar é chamado de área de talentos humanos e o da Braskem, de área de pessoas e organizações.
Da mesma forma, mudaram as funções. Para inúmeros gurus da administração, a palavra "líder" marca a diferença entre o chefe ideal e aquele do passado. O líder inova, em vez de administrar; interessa-se pelas pessoas, em vez de olhar processos; influencia, em vez de mandar. Da mesma forma, os empregados estão começando a ganhar outros nomes. Até porque o termo guarda um certo ranço de servidão, assim como funcionário remete a uma pessoa que mecanicamente cumpre funções predeterminadas. É desse estigma que as empresas querem fugir. "O problema é que ainda é difícil encontrar coerência entre o discurso e a ação", diz Mourão. "Muitas empresas mudam apenas os nomes, e não os conceitos."
Quem defende a mudança de nomes afirma que as palavras repetidas várias vezes vão ajudar o funcionário (ou colaborador, associado, integrante, o que seja) a entender a cultura da empresa. Em 1992, o presidente da Serasa, Elcio Anibal de Lucca, e outros diretores (ou líderes) decidiram adotar o nome "Ser Serasa" para todos os funcionários. A idéia é reforçar o conceito de time e coletividade. "Não estamos aqui simplesmente exercendo funções", diz De Lucca. "Cada um deve se sentir parte do todo." Adriano Lima, vice-presidente de recursos humanos da MasterCard, discorda. "O tiro pode sair pela culatra", diz. "Se você cria um nome bonito mas não faz jus a ele, corre o risco de ser ridicularizado internamente."
"Chamar funcionário de colaborador é hipocrisia", diz Joaquim Patto, da Mercer, consultoria de recursos humanos. "Colaborar é dar o dízimo na igreja. O que há entre patrão e empregado é um contrato de trabalho, não de colaboração." Segundo Patto, muitas vezes a mudança de vocabulário é uma tentativa do RH de mostrar importância ou de, simplesmente, amenizar algumas palavras que se tornaram pejorativas. "Para muitos, patrão é sinônimo de diabo e chefe virou motivo de piada, então decidiram trocar os nomes", diz. "O que continua fazendo diferença, porém, é o resultado e não a forma como as pessoas são chamadas." Pode ser, mas n |
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Fonte: EXAME |
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