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24/12/2004 |
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Mercados financeiros no Brasil têm ano notável |
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Brasil prepara rara emissão de títulos em moeda local
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Nas últimas semanas houve grandes expectativas nos mercados de títulos de que o governo brasileiro estaria preparando uma emissão com valor de face em reais. Se ela ocorrer, será a primeira emissão desse tipo do país, e apenas o terceiro título em moeda local na América Latina.
Até agora os mercados continuam esperando. Mas enquanto o Tesouro brasileiro aguarda o momento certo, o setor privado do país se adiantou. O Banco Votorantim, parte do conglomerado industrial Votorantim, abriu caminho no final de novembro com um título internacional para 18 meses pagando juros de 18,5% ao ano, no valor equivalente a US$ 75 milhões.
Ele foi seguido este mês pela unidade local do ABN Amro e pelo Bradesco e o Unibanco, dois dos maiores bancos privados brasileiros, com emissões totais equivalentes a mais de US$ 300 milhões. Os títulos tiveram enorme aceitação.
"Íamos oferecer inicialmente US$ 50 milhões, mas houve demanda para mais de US$ 100 milhões", diz Pedro Mollo, diretor de operações de tesouro no Banco Votorantim. "Paramos em US$ 75 milhões para deixar demanda para o mercado secundário." As emissões se esgotaram.
Grande parte da demanda veio de fundos de investimentos internacionais, que querem diversificar afastando-se do dólar em queda.
Para muitos investidores, as novas emissões também oferecem o primeiro gosto das altas taxas de juros praticadas no mercado doméstico do Brasil, do qual muitos administradores de fundos são barrados por seus contratos de investimento. Antes das emissões em real, sua única atuação na economia brasileira era através de títulos em moeda estrangeira, que pagam juros muito menores.
Foram as margens de rendimento menores em relação aos títulos brasileiros que possibilitaram as novas emissões. Dois anos atrás, o rendimento exigido pelos investidores para comprar títulos brasileiros em vez de do Tesouro americanos de maturidade semelhante era de mais de 2 mil pontos básicos.
Essa margem caiu desde então para menos de 400 pb, seu menor nível desde 1997, refletindo a crescente confiança na estabilidade da economia brasileira em sua capacidade de manter um crescimento sustentável. A economia deverá crescer mais de 5% este ano, depois de estagnar em 2003.
Com a confiança dos investidores em seu nível mais alto em muitos anos, esperava-se que o governo aproveitasse a oportunidade para emitir em reais. Mas é provável que ele espere pelo menos que a atividade do mercado se reaqueça depois dos feriados.
"Sabemos que existe demanda, mas não estamos vendo isso agora", disse José Antônio Gragnani, secretário-assistente do Tesouro.
A especulação vem crescendo desde o início do mês passado, quando o governo da Colômbia emitiu papéis nominais em pesos com resgate em 2010 no valor de US$ 375 milhões. O primeiro negócio em moeda latino-americana foi feito pelo Uruguai em 2003.
Para os emissores, há poderosas vantagens em colocar os papéis no exterior em sua própria moeda. A primeira é que o risco do câmbio é transferido para o investidor.
Normalmente, as empresas brasileiras que emitem em dólares ou euros devem contratar hedges para cobrir os riscos monetários. Isso é caro, e o custo de não fazê-lo pode ser traumático, como descobriram muitas companhias depois de desvalorizações repentinas do real em 1999 e 2002. Conforme o real se estabilizou, os investidores estrangeiros tornaram-se mais dispostos a assumir o risco.
Títulos em moeda local também permitem que os emissores atraiam um novo tipo de investidor, que procura retornos maiores que os disponíveis nos papéis nominais em moeda estrangeira.
Enquanto aceitam o risco do câmbio em troca de juros mais altos, os investidores também são incentivados ao ver os emissores optando pela moeda local, o que é considerado um passo na direção de empréstimos mais responsáveis pelos governos e as empresas.
Os títulos também oferecem aos emissores uma alternativa aos papéis que ele |
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Fonte: Financial Times - Jonathan Wheatley |
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