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12/01/2005 |
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Em defesa da globalização |
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A economia global pode ser boa para todos, diz Lester Thurow, especialista que abre a série de EXAME sobre A saúde das nações. |
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A globalização está mudando a cara do mundo como nós o conhecemos -- e mudando para melhor. A economia moderna não está mais circunscrita a fronteiras e limites locais. E cada vez mais empresas estão atuando com essa mentalidade. É comum que empresários busquem os locais com custos de produção mais baixos. Até há pouco tempo, uma empresa instalada em São Paulo se limitava a comparar diferentes regiões da cidade. Outras empresas procuram as melhores áreas do Brasil para trabalhar. Hoje em dia, no entanto, essa procura é feita em todo o planeta. Para muitos empresários, a resposta na hora de produzir tem sido a China. Já na hora de vender a produção, é possível que a aposta seja os Estados Unidos. Um aspecto importante da globalização, portanto, diz respeito à abrangência do olhar. Há outro ângulo importante, que se refere ao comportamento interno das empresas. Uma dada corporação é global se seus executivos forem recrutados mundo afora. Se todos pertencem ao país da própria companhia, então ela não é global, ainda que venda em todos os países do mundo.
Assim como as empresas podem ser mais ou menos globalizadas, o mesmo vale para os países. Se você perguntar que país foi o mais beneficiado com a globalização nos últimos dez anos, a resposta será a China. Há apenas uma década, a China tinha uma renda per capita das mais baixas do mundo, ao redor de 400 dólares. Esse número está subindo rapidamente. No extremo oposto, temos dezenas de países que têm sido completamente ignorados pela globalização. Ela simplesmente não existe na África Central: lá não há investimentos, não há turismo, não se manufatura produtos, não há comércio. E isso é um problema sério, pois a globalização tem se mostrado essencial para a criação de riqueza.
Um paradoxo do mundo de hoje é entender a razão de tamanha contrariedade à globalização. Se ela é tão boa, por que tanta reclamação? Um motivo é que sempre haverá algum aspecto da globalização que cada pessoa individualmente condena. Quem é de esquerda diz que ela causa desigualdade, o que é verdade -- basta pensar na distância crescente entre África e China. Já as pessoas da direita criticam a globalização por estimular as migrações, o que também é verdade. Com a telecomunicação global, pessoas que vivem em vilarejos pobres do Terceiro Mundo podem entrar em contato com outras que vivem em países ricos, lugares para onde elas gostariam de ir. Os religiosos dizem que a globalização causa a secularização, o que, em alguma medida, é igualmente verdade. Outros a detestam quando deparam com o nascimento de uma cultura global. Alguns confundem isso com invasão da cultura americana, mas é um erro. Considere o exemplo da MTV. À exceção dos países de língua inglesa, a maior par te das músicas é cantada em outros idiomas. A MTV está totalmente integrada à nova cultura global.
O mesmo vale para a premiação do Oscar, em Hollywood. Há dois anos, somente um dos prêmios mais importantes foi dado a alguém que nasceu nos Estados Unidos. Na verdade, o que há é o nascimento de uma rede ligando diferentes pessoas e diferentes cidades ao redor do mundo. E isso cria alguns fenômenos curiosos. É possível que os habitantes de São Paulo tenham mais traços em comum com quem mora em Madri do que com as pessoas da área rural do Nordeste do Brasil. O inverso provavelmente é verdade: os madrilenos entendem melhor os paulistanos do que as pessoas que habitam em pequenos vilarejos no interior da Espanha, em termos culturais, de atividades, de estilo de vida. Esse fenômeno global assusta muita gente. Isso ocorre também nos Estados Unidos. Temos muitos grupos, religiosos ou não, totalmente contrários à globalização. Aliás, a administração Bush não gosta da globalização.
Para quem não tem medo de jogar o jogo, a pergunta é saber o que fazer. Para os países, o fundamental é atrair investimentos externos. Trata-se de uma briga cada vez mais dura. Atualmente, cerca de 100 bilhões de dólares são investidos no Terce |
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Fonte: Por Lester Thurow - Exame |
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