Tal progressão se deve a um grande desenvolvimento de nosso conhecimento, tanto na área da biologia dos tumores, quanto na da fisiologia intrínseca do sistema imune e de suas relações com as células cancerígenas.
Com o avanço, foi possível gerar in vitro células dendríticas. Elas têm a função de "apresentar" ao sistema imune qualquer substância que precise ser conhecida e são, portanto, fundamentais para o tratamento de neoplasias.
Utilizando o potencial terapêutico das células dendríticas, desenvolvemos uma vacina híbrida, com essas células, combinadas às do tumor, para pacientes com melanomas ou carcinomas renais metastáticos. Em um estudo desenvolvido em conjunto pelo Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), o Laboratório de Patologia Cirúrgica e Molecular e o Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, tratamos 70 pacientes, que mostraram melhora em seu sistema imune, recuperando a hipersensibilidade tardia a antígenos, antes negativa.
Dentre as várias modalidades de imunoterapia, a vacinação, por buscar induzir uma resposta imune ativa no indivíduo, traria para o tratamento da doença uma das principais características da resposta imune: a especificidade. Essa característica, que permite que o sistema imune discrimine com muita exatidão seus alvos, torna os mecanismos de ataque muito precisos e diminui significativamente a lesão de tecidos normais, mesmo que muito semelhantes aos tecidos neoplásicos. Assim, uma vacina contra o câncer deveria provocar muito menos efeitos colaterais adversos, pois estes são conseqüência da falta de especificidade dos tratamentos usuais, quer sejam quimioterápicos, quer sejam radioterápicos.
Todavia, o desenvolvimento de vacinas enfrenta obstáculos consideráveis, decorrentes da história natural das neoplasias. Qualquer tumor, ao se desenvolver em um indivíduo imunocompetente, é submetido a mecanismos de seleção imunológica, que terminam no estabelecimento de um equilíbrio entre a neoplasia e o sistema imune. O rompimento desse equilíbrio, imprescindível para o estabelecimento de uma resposta ativa contra o tumor no paciente, torna-se objetivo muito difícil de ser alcançado.
À medida, porém, que foram sendo descobertos os diferentes mecanismos de evasão tumoral à resposta imune, tornou-se possível vislumbrar estratégias capazes de vencê-los. A aplicação destas diferentes estratégias foi, paulatinamente, permitindo seu aperfeiçoamento, até que hoje podemos observar, em determinadas situações clínicas, o desencadear de respostas imunes eficazes contra os tumores nos pacientes submetidos a tais estratégias.
No tratamento do câncer, já estão distantes e resolvidas questões como a antigenicidade das células tumorais, ou seja, a existência, nelas, de alterações reconhecíveis pelo sistema imune, uma vez que se estabeleceu que, para uma célula se tornar cancerígena, precisa sofrer várias mutações, diversas das quais geram moléculas al