No entanto, a medida provocou aumentos dos juros nos Estados Unidos, o que eleva o custo da captação de recursos no exterior para o Brasil.
No curto prazo, porém, esses dois impactos são pequenos enquanto a valorização da moeda chinesa ficar restrita aos 2,3% registrados nesta quinta-feira.
A expectativa de especialistas é de que o governo da China vai adotar novas valorizações do iuan, movimento que deverá ser seguido por outras moedas da Ásia, como aconteceu com o ringgit da Malásia nesta quinta-feira.
"Não vai ser um impacto grande sobre a economia brasileira, porque a revalorização da moeda na China, na Malásia e possivelmente de outras moedas na Ásia está sendo feita de maneira bem gradual", disse Arturo Porzecanski, professor da Universidade de Nova York.
Capital
Os juros subiram no mercado americano nesta quinta-feira depois do anúncio da valorização do iuan.
Num primeiro momento, as taxas dos títulos de dez anos do Tesouro dos Estados Unidos passaram de 3,15% para 3,25% ao ano.
"A idéia é que se eles valorizam a moeda, não terão mais superávits comerciais tão grandes e não vão precisar comprar dólares, em particular bônus do Tesouro americano com o dinheiro dos saldos superavitários de sua balança", explicou o professor.
"Isso eleva o patamar dos custos do dinheiro para os países emergentes como o Brasil."
Porzecanski acha, porém, que no primeiro momento, o impacto é pequeno, mas positivo sobre as exportações brasileiras.
Já o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acha que a curto prazo não haverá impacto sobre as exportações.
"Ainda é cedo, mas a gente sabe que num primeiro momento seria o reflexo do custo do financiamento, do custo do capital, que é negativo", disse Castro.
"Sob aspecto comercial é praticamente nulo. Pode ocorrer no futuro se a valorização se acentuar, mas por enquanto, são apenas 2%, não tem reflexo praticamente nenhum."
Futuro
A maior parte dos analistas do mercado financeiro internacional esperavam uma valorização entre 5% e 10% do iuan.
Agora, a maioria acredita que haverá novas revalorizações.
"Espero que esse seja o primeiro passo de um grande caminho de revalorizações da moeda chinesa e também de outras moedas dos países da Ásia", disse Porzecanski.
Para Castro, o impacto da valorização mais acentuada da moeda chinesa sobre as exportações brasileiras para a China será pequeno, porque a maior parte delas são commodities que, segundo ele, não sofrem efeitos diretos do câmbio. Mas o Brasil ganha com vendas para outros países, na sua avaliação.
"Em terceiros mercados para onde o Brasil exporta manufaturados, o benefício indireto é muito maior do que o benefício direto das exportações da China. Principalmente os Estados Unidos, que é o principal mercado brasileiro, mas antes de tudo é o principal mercado da China", disse.
"Então, uma eventual dificuldade da China de continuar exportando para os Estados Unidos nos mesmos níveis atuais, abre a possibilidade real de o Brasil ocupar espaços."
Mercado interno
A medida adotada nesta quinta-feira também deve ter, por enquanto, impacto reduzido nos Estados Unidos, onde o Congresso vinha ameaçando aumentar os impostos sobre produtos importados da China se o país não valorizasse o iuan.
"O impacto para a economia americana será mais psicológico", disse Francisco Panizza, professor da London School of Economics.
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