Já completei 28 anos envolvida com TI, 27 deles profissionalmente.
O avanço tecnológico que houve neste período é indiscutível. Quantos profissionais como eu, diante da velocidade das inovações nesta área , não se angustiam com a sensação de estar sempre “devendo” em termos de conhecimento. Será possível algum dia ter domínio da tecnologia?
O mais interessante nesta trajetória é observar a mudança que houve em termos do perfil do profissional que atua nesta área e no conceito do que é considerado valor na utilização da TI.
Entrei para a faculdade sem saber exatamente o que era o processamento de dados, seguindo o conselho de meu pai segundo o qual esse “negócio” dava muito dinheiro. Ele tinha razão quanto a isso. Em 1977, nem tinha completado a faculdade, já tinha um emprego como programadora Cobol, ganhando “os tubos” segundo um amigo advogado cujo salário hoje é três vezes maior que o meu.
Existia uma carência de conhecimento e de profissionais no mercado bastante confortável e conveniente para quem trabalhava na área. Muita gente não entendia direito qual era a mágica que fazia um computador gerar estatísticas, relatórios e formulários que permitiam que tarefas que antes duravam horas fossem completadas em minutos.
Esse tipo de coisa dava a nós, profissionais de TI, muito orgulho e com razão. Mas trazia também uma certa arrogância. Afinal, era um conhecimento não muito difundido que exigia um potencial diferenciado, raciocínio lógico apurado, muita pesquisa e dedicação. Enfim, TI era um assunto que não dava para discutir com “qualquer um”.
O primeiro susto, levei quando em 1995 fui trabalhar num banco. O sistema de contabilidade estava totalmente apoiado num programa que ninguém sabia exatamente como trabalhava. Como em time que está ganhando ninguém mexe (principalmente se o “time” é uma peça importante no negócio da instituição) um determinado analista, que era quem dominava o código, ia acrescentando umas linhas de programação aqui e ali e assim eram agregadas novas funcionalidades à contabilidade e corrigidos eventuais “bugs”.
Afinal performance e rapidez naquela época não estavam entre as nossas preocupações. O importante era a contabilidade fechar no final do mês e emitir os relatórios corretos. Fui contratada especificamente para entender e documentar o programa, aparentemente uma tarefa pouco nobre com a qual um analista experiente não podia “perder tempo”. Como resultado do trabalho e em função do compartilhamento da documentação, outros profissionais passaram a atuar no sistema, minorando o tempo despendido no trabalho de manutenção. O código foi racionalizado e gerou economia de algumas horas de processamento; de quebra acabei entendendo mais da contabilidade do banco do que muitos dos analistas que já estavam lá há alguns anos. Guardei a lição: documentar é importante e partilhar conhecimento traz eficiência.
Fui mudando de emprego (era muito fácil !!) até que em 1987 me deparei com uma nova realidade.
O meu trabalho que até então, tinha sempre tido como alvo a própria organização precisava agora resultar em benefícios para o cliente externo. O cliente não entendia muito de sistemas operacionais, técnicas de programação ou fluxogramas. Mas o fato é que era ele quem pagava meu salário e queria resultados rápidos, informações online e confiáveis.
Percebi que para produzir algo que ele realmente gostasse era necessário entender o que ele queria. Existia um abismo na nossa comunicação. Outra lição aprendida: a mais moderna tecnologia e o mais especializado conhecimento não são nada quando a necessidade do cliente não é entendida.
Desde então, vi com apreensão durante muito tempo alagar-se a distância entre a TI e os clientes internos ou externos da organização.
Avançava o desenvolvimento tecnológico e com isso cresciam também os especialistas, profissionais de perfil altamente valorizado. O melhor sistema era o que u |