Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – “A transformação da escola pública pode ser considerada como uma utopia ou como uma atitude. Como perspectiva utópica estará por vir, mas como atitude a transformação se incorpora ao trabalho cotidiano.”
Essa definição, de viver integralmente a realidade escolar, norteou o projeto “Trabalho integrado na escola pública: participação político-pedagógica”, coordenado pelo professor Pedro Ganzeli, da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O projeto – desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vicente Ráo, localizada no Parque Industrial, em Campinas – teve apoio da FAPESP por meio do Programa de Melhoria do Ensino Público.
De acordo com Ganzeli, a série de iniciativas ajudou a construir uma nova forma de organização democrática, tanto no âmbito interno da escola como na relação da unidade com os órgãos centrais de educação da rede municipal que controlam todo o processo escolar.
“As soluções foram pensadas pelos próprios professores, que deixaram de ser tarefeiros para adotar um trabalho reflexivo no enfrentamento dos problemas. A visão profissional se sobrepôs à visão personalista predominante na escola pública”, disse à Agência FAPESP.
O projeto, iniciado em julho de 2006 e concluído no mês passado, buscou romper com a lógica de organização do espaço escolar tradicional, baseada majoritariamente nas decisões dos gestores da educação.
A escolha da escola se deu a critério da equipe gestora. E, a partir das necessidades da unidade, as ações começaram a ser elaboradas de maneira participativa. Segundo Ganzeli, a organização burocrática, fragmentação e falta de diálogo que ainda se fazem presentes na escola pública dificultam o entendimento das necessidades pedagógicas pelo setor administrativo.
“Ao discutir as demandas, o que víamos eram trabalhos muito fragmentados. A supervisora conversava com a diretora enquanto a coordenadora pedagógica mantinha contato com a orientadora pedagógica de forma isolada. E elas todas nunca se reuniam”, apontou.
A escola Vicente Ráo, indicada pela supervisão de ensino, contava em 2005 com um quadro completo de gestores (diretora, dois vice-diretores e orientadora pedagógica), responsável por 1,2 mil alunos em quatro turnos.
“Iniciamos as reuniões para compor o grupo de bolsistas. A partir de diálogos constantes, desenvolvemos cinco subprojetos e terminamos com sete. Dos 14 professores pesquisadores, chegamos a 19 e, ao final, eram 16 bolsistas”, contou Ganzeli.
Além das reuniões gerais com todo o grupo, para cada subprojeto houve encontros e ações específicas. Durante as reuniões do subprojeto intitulado Planejamento participativo: caminho da gestão democrática, que envolveu o planejamento participativo e o conselho de escola, não se notou, por exemplo, a presença de um regimento interno.
“Quando passamos a discutir o significado do regimento interno, começamos a perceber o significado do conselho e ampliamos a participação no processo de eleição. Por proposta dos gestores, informatizamos esse processo na eleição do conselho de escola, com mais divulgação. A dinâmica participativa aumentou bastante na unidade escolar”, disse.
Outro subprojeto inovador foi o “Jogos da amizade”, que, segundo professor da FE, envolveu a escola como um todo. “Ele ampliou muito a interdisciplinaridade. Os alunos criaram uma comissão organizadora dos jogos e tanto eles como os pais passaram a participar da organização. Isso foi fundamental também”, afirmou.
Ampliar a participação na organização do trabalho escolar foi o que permeou os diferentes subprojetos. Além dos dois já citados, foram destaques: Ação integrada da supervisão educacional, laboratório interativo de ciências, inclusão e o trabalho integrado na escola pública, Construção de ciclos de desenvolvimento humano e reg |